1º Período Dinástico (entre os anos de 1565 a 1800)
Ficou conhecido na historiografia da Ordem como 1º Período Dinástico entre os anos de 1565 a 1800, período em que foi o período em que o Ramo dos Duques de Alvito governaram a Ordem). Este período teve início em 1565, quando através do Breve Apostólico VOLENS DIVINAE MISERICORDIA o Papa Pio IV entregou a Administração Perpétua da Ordem, com o título de Grão-Magistério, ao Cardeal Tolomeo I Galli, Duque de Alvito, e a seus sucessores a título Hereditário.
Pio IV de' Médici, que tornou a Sacra Milícia uma Ordem Dinástica em 1565.
O Cardeal Tolomeo I Galli (1565-1605)
Não há como negar que a reestruturação da Ordem Militar de Jesus Cristo e de Santa Maria foi à obra de um homem: o Cardeal Tolomeo I Galli, Duque de Alvito e Conde del Trè Pievi. Tolomeo I nasceu em 25 de setembro de 1525, com o nome de Bartolomeo Galli, filho do riquíssimo Ottavio IV Niccolò Galli, IV Conde de Gravedona, e da Nobilíssima Elisabetta Vailati. Terceiro filho homem, Bartolomeo desde tenra idade apresentou Vocação para a vida clerical. Quando contava com poucos anos, foi mandado para ser preparado pelos melhores Mestres da Itália, que naquele período, era o melhor da Europa e do resto do mundo. Desta forma foi primeiramente preparado para ter um latim fluente, e para isto foi enviado ao mestre latinista Benedetto Giovio, que lhe ensinou as artes do latim utilizando os métodos da Retórica Ciceronina. Em 1544, após ter ótimas aprovações em todos os exames de sua fase preparatória, foi enviado para Roma, onde o Mestre Paolo Giovio o passou a preparar para a escrita e a caligrafia, chegando mesma a alcançar o posto de Copista.
Tolomeo I teve dois irmãos, ambos mais velhos, que foram Gerolamo Galli, Marquês de Isola, e Marco Galli, V Conde de Gravedona. Para a boa sorte da dinastia, os três filhos de Ottavio IV foram grandes homens, de modo que, individualmente já seriam capazes de erguer uma grande dinastia, porém souberam que com seu trabalho conjunto, poderiam ser as novas bases de uma das Dinastias mais importantes da Europa.
Cardeal Tolomeo I Galli, Duque de Alvito, I Grão-Mestre Hereditário da Ordem
Tolomeo Galli, como passou a ser conhecido, alcançou um rápido crescimento na vida clerical, sendo convidado pelo Monsenhor Gerolamo Garimberto, Bispo de Gallese, para ser Secretário do Cardeal Antonio Trivulzio, sendo que esta notícia foi dada a seu pai pelo Embaixador de Veneza Paolo Tiepolo. Estando a serviço do Cardeal Trivulzio, Bartolomeo passou a ser chamado de “Tolomeo” pelo Cardeal, que via na forma de chamar o jovem príncipe como algo de afetuoso. Neste período Tolomeo percebeu que no futuro sua família deveria buscar uniões matrimoniais com membros de importantes Dinastias da Itália, como os Trivulzio, os Visconti e os Borromeo, bem como com os Farnese e os Médicis, caso quisessem sobreviver no senário político. Todas estas previsões do jovem Clérigo acabaram por se concretizarem.
Em 1559, após a morte do Cardeal Trivulzio, Tolomeo foi convidado a ser Secretário do Cardeal florentino Taddeo Gaddi, porém não teve tempo de aceitar a oferta, pois a Casa de’ Medici, Grão-Duques de Florença solicitaram a seu pai que fosse o novo pupilo de Giovan Angelo de' Medici, o poderoso Cardeal de Milão. Seu pai, muito habilmente aceitou o pedido, e isto mudou a história da Dinastia, pois o Cardeal de' Medici seria em breve Eleito Papa e reinaria com o nome de Pio IV. Apóa a Eleição de seu Mestre, Tolomeo Galli seguiu com ele para Roma, onde passou a auxiliar o Pontífice como Secretário Geral, sendo o responsável pela Correspondência Diplomática que o Santo Padre recebia e enviava aos Reis e Príncipes.
Tolomeo Galli passou a ser o responsável pelas Nomeações dos Bispos e Núncios Apostólicos, e todos os dias, relatava ao Santo Padre as novidades políticas envolvendo os Estados Católicos, e as relações dos Núncios Pontifícios com as Cortes Europeias. Neste período tornou-se extremamente íntimo do Cardeal São Carlos Borromeo, sobrinho do Papa, e que tinha importante posto na Corte Pontifícia.
Conseguiu, após sérias manobras, que as reuniões preparatórias do Concilio de Trento (1562-1563) fossem realizadas no Castelo Galli, em Gravedona, e apesar de sua pouca idade, passou a ser consultado sobre todas as decisões do Sumo Pontífice (quer em caráter público como privado) e do Concilio. Sua participação foi de suma importância para que Pio IV consolidasse suas relações com o Cardeal Alessandro Farnese e escritores como Bernardo Tasso e Annibal Caro.
O Cardeal Conde São Carlos Borromeo junto da Virgem Maria. Pintura mural do século XVIII
Por convite de São Carlos Borromeo, passou a frequentar a Academia Teológica fundada pelo Santo Cardeal de Milão, onde teve a oportunidade de conhecer grandes nomes da Teologia Clássica, formando uma especial amizade com o estudioso Ugo Boncompagni , futuro Gregório XIII.
A grande estima que Pio IV tinha em relação ao então Monsenhor de Galli passou a ser notada pelo rápido avanço deste na hierarquia eclesiástica. No final de 1559 o Santo Padre o fez Arquidiácono de Monopoli. Em 1560 o Elegeu Bispo de Martirano (na Calábria), em 07 de julho de 1562, acumulou-lhe a função de Arcebispo de Manfredonia. Os benefícios e privilégios que Pio IV cumulou a Tolomeo Galli foram tantos, que segundo o Embaixador de Veneza Girolamo Soranzo, em 1563 a renda anual de Tolomeo era de 7.000 coroas de ouro, uma renda maior do que a renda anual do Rei de Portugal. Finalmente em 12 de março de 1565 os esforços do Arcebispo Galli foram recompensados, tendo sido Criado Cardeal com o título de San Teodoro, passando pouco depois a ser o Cardeal de S. Agata alla Suburra.
Ainda em 1565 chegou à Santa Sé o pedido enviado pelo Bispo de Trento, para que o Papa interferisse nas atividades dos Cavaleiros da Milícia de Jesus Cristo e de Santa Maria Gloriosa, uma vez que o Grão-Mestre da mesma, utilizando a vasta riqueza acumulada pela Ordem, estava causando distúrbios nos Feudos próximos a região trentina. O Santo Padre ofereceu ao Cardeal Tolomeo a possibilidade deste se tornar o Grão-Mestre da Ordem, e desta forma reverter para si as riquezas por ela acumulada. Tolomeo concordou com a proposta, desde que não fosse Eleito Grão-Mestre pelos Cavaleiros, e sim fosse Declarado Grão-Mestre perpétuo da Ordem pelo Soberano Pontífice, e que o Grão-Magistério se tornasse hereditário em sua família. O Santo Padre concordou, porém pediu que Tolomeo abrisse mão da maior parte dos bens da Ordem em favor da Santa Sé. Após este acordo, o Santo Padre, através do Breve Pontifício Volens Divinae Misericordiae (Quis a Misericórdia Divina) cedeu a Administração Perpétua e Hereditária da Ordem, com o título de Grão-Magistério, ao Cardeal, que, para demonstrar seu agradecimento ao Pontífice, lhe doou 14.000 Coroas de Ouro (um valor maior do que a fortuna de muitos Príncipes).
Em 1595 o Cardeal Tolomeo I adquire a Soberania sobre o Condado de Alvito, que é promovido a Ducado pelo Rei Felipe II da Espanha no mesmo ano. Tolomeo I transmitiu seus Direito hereditários para seu sobrinho Tolomeo II Galli, filho de Marcos I, seu irmão.
O grande Cardeal Tolomeo I Galli, 1º Conde-Duque de Alvito, e primeiro Grão-Mestre Hereditário da Ordem (29º Grão-Mestre desde a fundação da Ordem), foi o Consagrante Principal tanto da Sagração Episcopal de São Carlos Borromeo (em 1563), quanto de Ippolito Aldobrandini, que em 1592 foi Eleito Papa com o nome de Clemente VIII.
Tolomeo II Galli, 2º Duque de Alvito
Tolomeo II Galli (1605-1623)
Após a morte do Cardeal-Duque Tolomeo I de Galli-Alvito, em 1607, a Chefia da Casa Principesca e Ducal passou a seu sobrinho o Príncipe Tolomeo II, que desta forma passou a ser o 2º Grão-Mestre Hereditário da Ordem, e o 30º da Cronologia Magistral, desde a Fundação da Ordem em 1209.
A escolha de Tolomeo II como sucessor foi feita pelo próprio Cardeal-Duque Tolomeo I, e a escolha pareceu óbvia desde o nascimento deste Príncipe em 1568, uma vez que era o filho mais velho de seu irmão mais novo, Marcos I Galli.
Tolomeo II elevou a Ordem à categoria das grandes Ordens Dinásticas da Península Itálica, como a Ordem de Santo Estefano Papa e Martir, a Ordem do Sangue do Santíssimo Salvador, ou Sacra Ordem Constantiniana de São Jorge, por exemplo.
Tolomeo II casou-se com a Condessa Giustina Borromeo, sua prima. Após o falecimento da primeira esposa, casou-se em segundas núpcias com a Princesa Partenia Bonelli.
Ano de 1620: Criação do Grão-Bailiado Cerimonial da França
Por uma determinação Pontifícia anterior ao Breve Volens Divinae Misericordiae Ordem havia sido privada da grande maioria de seus bens, situação agravada pelo Papa Sisto V em 1588 com a Bula Inter Caetera, de modo que quase que a totalidade de suas Comendadorias, Igrejas e Conventos haviam passado para a propriedade da santa Sé, das Dioceses locais ou de outras Ordens Religiosas.
Tolomeo II pede em 1618 autorização para abrirem-se Grão-Bailiados Cerimoniais da Ordem. O termo “Cerimoniais” é devido ao fato de que, estes Grão-Bailiados iriam abrigar as Cerimônias e demais atos típicos da Ordem em diversas regiões, para os diferenciar das antigas Comendadorias Priorais da Ordem, que serviam, principalmente, como sede para os Conventos da Ordem, e geralmente eram sustentadas pela exploração de privilégios de dízimos ou ainda por grandes áreas de terras, onde geralmente tais Priorados eram construídos.
Em 1620 o Papa Paulo V permite que a Ordem Inaugure o seu primeiro Grão-Bailiado Cerimonial na França. Fora encarregado de ser o primeiro Grão-Bailio o nobre italiano Barão Giovanni Baptista Petrignani, originário de Spoleto, e a Rainha da França Catarina de Médicis recebeu a Grã-Cruz da Ordem, e tornou-se Protetora Régia do Grão-Bailiado.
Philipp Moritz Prinz von Bayern. Cônego da Casa Principesca, com Vestes Corais de Cavaleiro Capelão da Ordem. Ano de 1790.
Francesco I Galli (1623-1674)
Sob Francesco I a Ordem atingiu um grande nível de reconhecimento. Em seu reinado numerosos foram os Cavaleiros ilustres que entraram na Ordem, e a Milícia recebeu o ar da nova aristocracia.
Francesco I Galli, 3º Duque de Alvito, seguindo os planos matrimoniais estipulados por seu tio-avô o Cardeal-Duque Tolomeo I, casa-se com sua prima a Condessa Giustina Farnese Borromeo, filha de Renato I Borromeo, Conde de Arona, e de Ersilia Farnese, filha de Ottavio Farnese, Duque de Parma.
Com este casamento Francesco I conseguiu manter o apoio da Casa Borromeo, já adquirido pelo casamento de seu pai e pelas boas relações de seu tio-avô, e ainda fez com que os Cavaleiros da Ordem pudessem ser bem recebidos no Ducado de Parma.
Tolomeo III Galli (1674-1687)
Tolomeo III Galli, 4º Duque de Alvito, não garantiu apenas a manutenção da Ordem, mas sim o seu sólido crescimento. Ainda dentro das políticas matrimoniais determinadas pelo Cardeal-Duque, um século antes, casou-se com Ottavia Griamaldi Trivulzio, filha do Príncipe do Sacro Império Romano-Germânico Teodoro IX Trivulzio, 1º Príncipe de Mesolcina, de Trivulzio e de Mesocco, e da Princesa Giovanna Maria Grimaldi, Princesa do Mônaco, filha de Ercole I do Mônaco, e irmã do Príncipe Onorato II do Mônaco.
Deste casamento nasceriam as duas Linhas da Casa, que governariam a Ordem para sempre. A primeira, a Linha dos Borromeo-Galli, Duques de Alvito, cujo último Duque, Carlos III, 36º Grão-Mestre da Ordem, morreria sem descendência em 1800. E a segunda linha, a Linha dos Trivulzio-Galli, Príncipes de Mesolcina, que governariam a Ordem de 1800 até nossos dias.