A Ordem pré-Dinástica (Século XIII ao Século XVI)
É conhecido como 3º Período Histórico da Ordem, ou período Pré-Dinástico, o período de três séculos, entre os anos de 1260 a 1565.
Em 1260, após a Renúncia ao Grão-Magistério do Beato Bartolomeo de Vicenza, foi Eleito como V Grão-Mestre o Conde Loterengo degli Andalo, proveniente da Alta Nobreza de Bolonha. O Conde degli Andalo exerceria o Grão-Magistério até o ano de 1264, quando faleceu.
Também no ano de 1260 um movimento de flagelantes, que cresceu muito no Norte da Itália, passou a ter uma grande influência política. Os grupos de flagelantes tiveram um papel preponderante na política medieval italiana, sendo que em 1261 fora fundado em Bolonha a "Congregazione dei Devoti", um grupo composto pelos sete principais nomes da Nobreza de Bolonha, Parma, Modena, e Reggio Emília.
Este grupo de Nobres, liderados pelo Provincial dos Franciscanos de Bolonha, Frei Rufino Gurgone, buscou o apoio do Conde Loterengo degli Andalo, V Grão-Mestre da Milícia de Jesus Cristo, para que este aceitasse ser o seu Grão-Mestre. Assim a "Congregazione dei Devoti" se constituiu em uma Ordem de Cavalaria, chamada de Ordem Militar de Santa Maria. A Ordem de Santa Maria ganhou então seu primeiro emblema: uma Cruz ancorada esmaltada de azul. Por lema, a máxima latina OPPORTUNE ET IMPORTUNE.
Os Cavaleiros da nova Ordem Militar de Santa Maria buscavam encontrar na vida espiritual a resposta para as angústias da vida terrena, diferentemente dos Cavaleiros da Milícia de Jesus Cristo, que constituíam-se em uma verdadeira Ordem Militar Armada, que já possuía comprovada experiência na tática da guerra.
Como ambas as Ordens possuíam o mesmo Grão-Mestre, o Frei Rufino Gurgone, OFM, Cavaleiro da Ordem Militar de Santa Maria, propôs que as Ordens fossem unidas em uma só, o que permitiria uma maior atuação da Cavalaria em prol de seus ideais.
A união de ambas as Ordens foi aprovada pela Bula SOL ILLE VERUS, do Papa Martinho IV, sendo que o Pontífice pôs os Cavaleiros abaixo da Regra de Santo Agostinho.
O Papa então ordenou que "Os Membros da Ordem estão autorizado a portar armas em defesa da Fé Católica e da liberdade da Igreja, quando assim forem solicitados pela Santa Sé, sendo também chamados a interromper a agitação civil, sendo que devem portar armas apenas de maneira defensiva, e com a autorização Diocesana."
A Sede da Ordem, que a partir da Bula SOL ILLE VERUS passou a ser chamada de Ordem Militar da Milícia de Jesus Cristo e de Santa Maria, ou mais conhecida como “Sacra Milícia”, foi tida como sendo junto ao Mosteiro Ronzano, perto de Bolonha, sendo que o primeiro Grão-Mestre foi o Irmão Loterengo degli Andalo, que foi um dos Fundadores da Ordem. Com pouco tempo os Cavaleiros da Mãe de Deus são os únicos responsáveis por manter a paz em Bolonha, sendo que a reputação dos Cavaleiros era tão boa, que em pouco tempo são chamados a manter a paz em Florença, Pistóia e Prato.
Contudo, tal união foi rechaçada pelos Cavaleiros da Milícia de Jesus Cristo, uma vez que as Ordens combatiam sob ideais distintos. Tal negativa não foi aceita pelos Cavaleiros de Santa Maria, que insistiram no projeto em um Capítulo Geral, que pela primeira vez reunia os Cavaleiros de ambas as Ordens, em 1275.
Neste Capítulo Geral, chamado de Capítulo de Pisa, foi definido que as Ordens seriam unidas em uma só, formando a Sacra Milícia de Jesus Cristo e de Santa Maria, em obediência à determinação Pontifícia exarada pela Bula de Martinho IV.
O Capítulo de Pisa previu um novo Estatuto, que seria aplicado à Ordem, e foi escrito pelo Frei Rufino Gurgone, OFM, e aprovado em 1276 e previa que os Cavaleiros seriam divididos em dois grupos, os que, sendo Cavaleiros de Obediência, viviam em comunidades monásticas, e os que, sendo Cavaleiros de Honra e Devoção, viviam em suas casas, sob votos de manter a castidade conjugal. O primeiro grupo, dos Cavaleiros de Obediência eram compostos por Cavaleiros Capelães, Cavaleiros Religiosos e Cavaleiros Leigos, que se propunham a viver sob a Regra de Santo Agostinho, mantendo vida comum.
Representação do século XIV, de um Cavaleiro da Ordem com seu Manto de Cerimônia. Ao lado do Cavaleiro, a Crua Militar da Ordem.
O Grão-Mestre Loterengo degli Andalò adquiriu o convento do Eremo di Ronzano, que havia sido construído em 1140, há dois quilômetros de Bolonha. Até o ano de 1475 o Eremo di Ronzano será a Capital da Ordem em toda a Europa.
Reúne-se em 1277 o Capítulo Geral, onde se decide que a Ordem passaria a ter o noviciado de um ano, tanto para a aceitação de novos Cavaleiros Conventuais da Categoria de Obediência, como para os demais Cavaleiros. No Noviciado os Noviços deveriam estudar as normas e regras da Ordem. Esta decisão foi depois confirmada pelos Capítulos individuais dos Priorados de Bolonha e de Pádua.
O Arquiprior da Ordem confirma a necessidade do Noviciado para os futuros Cavaleiros. Os candidatos a Cavaleiros das Categorias de Honra e Devoção e de Graça e Devoção, muitas vezes realizavam os seus noviciados em suas próprias casas, isso pois na maioria das vezes já eram casados, antes de serem admitidos como Cavaleiros. Porém, em público, os Noviços sempre deveriam portar o hábito dos Cavaleiros da Mãe de Deus.
Fora acordado que os Cavaleiros não poderiam participar de festividades populares, ou aceitarem cargos ou funções públicas. Os Cavaleiros de Honra e Devoção deveriam usar hábito semelhante aos dos Cavaleiros de Obediência, sendo que eram obrigados e recolherem-se ao Convento da Ordem em determinadas épocas do ano, como a Quaresma, onde deveriam dedicar-se unicamente à oração.
Pregavam os novos Estatutos um desligamento da Ordem do Templo, e uma maior atividade da Ordem em prol das classes populares. Sua existência consistia então na luta contra os infiéis que ameaçavam a Igreja Católica.
Representação do século XV, de um Cavaleiro da Ordem com seu Manto de Cerimônia.
Nestas épocas era Grão-Mestre da Ordem o Frei Loterengo degli Andalo, que apesar de sua alta função como Grão-Mestre, não respeitou os Estatutos das Ordens, vez que, por ser membro de uma importante família da Nobreza de Bolonha, não deixou de ocupar altas funções no governo da cidade, o que fez com que muitos Cavaleiros duvidassem de suas intenções religiosas.
A Sacra Milícia, por Aprovação Pontifícia, passou a gozar de todos os privilégios Canônicos antes atribuídos tanto à Milícia de Jesus Cristo, quanto aos concedidos à Ordem Militar de Santa Maria. A Ordem seguiria usando as cores tradicionais, branco e vermelho, e a cruz pátea da Milícia de Jesus Cristo.
Com o Grão-Magistério do Frei Luca di Clarissimi, XIV Grão-Mestre da Ordem (1365-1374) fora decidido que os Noviços deveriam estudar Teologia, e que deveriam ser apresentados perante o Conselho Magistral da Ordem.
Em 1390, fora reunida toda a Ordem em Capítulo Geral, sendo neste ano que pela primeira vez fora decidido que os Cavaleiros da Ordem seriam chamados de Cavaleiros da Mãe de Deus, ou ainda Frati Gaudenti, em homenagem à Santa Maria Gloriosa, que pelo latim da época era escrita como “Sancta Maria Gaudiosa”.
Os Cavaleiros da Ordem junto dos Padroeiros: Santa Maria e Nosso Senhor Jesus Cristo (séc. XVI)
As últimas décadas que antecederam ao Breve Pontifício que fez da Ordem uma Ordem Dinástica foram as mais dramáticas da história da Ordem.
Problemas administrativos e religiosos fizeram com que os Cavaleiros deixassem de lado suas obrigações Militares e Religiosas, e se dedicassem exclusivamente a viver de forma faustosa, gastando assim o vastíssimo patrimônio da Ordem, que havia se tornado uma das mais ricas Ordens de Cavalaria do mundo.
O Grão-Magistério do Conde Camillo di Astore dalla Volta, XXVIII Grão-Mestre e último Eleito da Ordem, foi sem dúvida o mais calamitoso. Conde Camillo era sobrinho do Conde Achille dalla Volta, XXVII Grão-Mestre Eleito da Ordem (entre os anos de 1550 a 1560), e não possuía as qualidades necessárias para governar a Ordem de maneira eficaz, e permitiu que os Cavaleiros tivessem uma vida desregrada.
Para sanar essa situação Pio IV, através do Breve Pontifício VOLENS DIVINAE MISERICORDIA, entregou a Administração Perpétua da Ordem ao Cardeal Tolomeo I Galli, Duque de Alvito, e a seus sucessores a título Hereditário.